domingo, 23 de dezembro de 2012

A Marta escreveu, eu achei legal e postei...



Perdi uma grande amiga...




Algumas pessoas podem não entender e achar que é um exagero.

Mas, ela era minha amiga...

Uma amiga de quatro patas, sem raça definida (isso é moderno, porque antes a gente dizia “vira lata”.), que entrou na minha vida e de minha família há mais de dezesseis anos.
Foi no início de outubro de 1996. Uma manhã eu estava saindo prá levar a Camila (minha filha) à escola e lá estava ela, em frente à nossa casa.
Chegou de mansinho, com uma carinha de carente (pois foi abandonada ali, provavelmente logo após ter sido desmamada). Que pessoa “legal” que fez isso com ela... Que “ser humano”...
Era linda, parecia uma bolinha de pelo. Logo, eu e a Camila nos apaixonamos por ela e não poderia ser de outro modo.
Nós duas amamos muito os animais (seja de duas ou quatro “patas”) e não poderíamos deixá-la na rua.
No início foi difícil conseguir permissão para adotá-la, pois já tínhamos um cachorrinho (o Peter, uma “coisa muito fofa e amada”, que também nos deixou aos doze anos e um gatinho selvagem chamado Nino que era muito amado por nós também e que desapareceu um pouco depois da chegada da Jully e nunca mais tivemos notícias).
Mas, nós lutamos e conseguimos que ela ficasse, a princípio temporariamente, até que alguém quisesse adotá-la. Claro, que isso não aconteceu... Nem fizemos muita força...
E isso durou mais de dezesseis anos...
Levamos a Jully ao veterinário e ele calculou que ela deveria ter por volta de quarenta dias. Então, como foi no início de outubro que ela chegou, imaginamos que seu nascimento teria sido no início de setembro de 1996.
Ela tomou todas as vacinas de filhote e a castramos, para evitar mais animais abandonados como ela, pelas ruas (fizemos a nossa parte).
Passou conosco por muitos momentos, uns bons e outros muito difíceis.
Mas, estava sempre ao nosso lado, principalmente comigo, que era a pessoa que ficava mais tempo com ela.
Em Jaú, onde moramos por mais de três anos, muitas vezes era a única companhia que eu tinha, às vezes durante quinze dias seguidos. Era com ela que eu conversava, desabafava nos momentos difíceis.
Claro que ela não falava nada, mas ouvia e parecia ter sensibilidade prá entender quando eu não estava bem, estava triste.
Por tudo isso é que eu digo que ela era minha amiga...
Uma amiga guerreira, que por várias vezes teve problemas de saúde e achávamos que não iria resistir.
Mas, ela passou por tudo, sempre com muita garra.
Era uma cachorrinha do bem. Não mordia, não avançava em ninguém, nem latia muito.
Só “entrava em pânico” quando soltavam fogos. Aí ela perdia o controle, ficava fora de si e nos deixava nervosos e ao mesmo tempo com dó pelo seu sofrimento.
Depois de Jaú, voltamos prá Ribeirão Preto e ela continuou nos acompanhando.
Com a idade avançada, os problemas de saúde foram aumentando, ela perdeu a visão de um olho, já não escutava bem.
Há algum tempo teve uma convulsão e a veterinária disse que deveria ser problema cardíaco.
Sua saúde foi piorando...
Sabíamos que a qualquer hora isso iria acontecer.
Mas, confesso, que quando aconteceu, fiquei muito, muito triste (e ainda estou).
Foi na madrugada de 21 para 22 de dezembro de 2012, por volta das cinco horas da manhã.
O meu sentimento de perda é como se fosse alguém da minha família.
Ela me trazia lembranças de um tempo que eu tinha meu pai e minha mãe comigo. Eles conviveram com ela e já não estão conosco há muitos anos.
Agora até isso acabou...
A Jully sempre foi tão discreta na sua existência e na hora de morrer não foi diferente. Sem barulho, sozinha, sem incomodar ninguém.
Mas, como os animais tem muito mais sensibilidade que nós, o Pablito e a Lolinha (nossos amados cãezinhos) perceberam que alguma coisa estranha estava acontecendo com a “Tia Jully” e ficaram muito agitados, dentro de casa e nessa hora eu entendi.
Só não tive coragem de ir conferir, mas acho que foi melhor, pois, além de não poder fazer mais nada, pois ela já estava no fim, eu iria ficar pior ao vê-la morrer. Sei lá o que é pior...
Essa era a Jully...
Sinto um vazio grande... Eu sei que temos que conviver com isso, mas, Jully, você vai deixar muita saudade e sempre estará na minha lembrança, como até hoje eu nunca me esqueci do Peter e do Nino, que foram tão importantes.
Esses bichinhos nos ensinam a todo o momento.
Amam-nos incondicionalmente, não discutem, não agridem, não guardam mágoa, não nos ofendem.
E não importa o que façamos, quando chegamos, nos recebem, “abanando o rabo”.
São solidários quando estamos tristes, coisa que o ser humano muitas vezes não é.
Só atacam se estiverem com fome ou se sentirem de alguma forma ameaçados.
Que diferença do ser humano...
O homem ataca, mata, violenta outros seres humanos e animais, muitas vezes pelo simples prazer de fazer.
Deveríamos nos espelhar mais nos animais ditos irracionais.
Jully, essas palavras expressam o que eu sentia e sinto por você.

Saudades, minha grande amiga...

Marta 



PS.:
Vi a Marta terminando de escrever esse texto hoje pela manhã, pedi para ler, achei interessante e resolvi postar aqui no meu Blog, como já tinha feito com um texto dela há alguns tempos atrás.
Espero que gostem, assim como eu gostei.
Bom final de domingo...

Eli dos Reis


sábado, 22 de dezembro de 2012

Nesta madrugada ela foi embora...




Ela entrou em casa por insistência da Camila, que na época era Camilinha, e da mãe, defendendo a sua filha ou a filha de outra, no caso uma cadela que nunca saberemos quem foi. E assim ela passou a primeira noite. O compromisso era apenas naquela noite, no dia seguinte ela partiria, ou seguiria seu caminho, assumindo sua situação de abandonada pelos donos.

Na noite seguinte, adivinhem o que aconteceu:

- Ah pai, só mais essa noite, depois ela vai...

Isso foi há 16 anos. Hoje sua história confunde-se com a nossa, pois, daquele final de tarde até agora participou de todos os episódios da família, estando conosco na Camilo de Matos, na São Salvador, na cidade de Jaú, e atualmente, Antonio e Helena Zerrenner.

Eu, que não a queria em casa, para falar a verdade, nunca a tive entre aqueles de quem mais gostasse, mas aceitava-a sòmente pela Camila. Acho que em algumas situações, mais a “suportava” do que aceitava, e as duas, mãe e filha notavam isso com toda clareza.

Mas, tenho que admitir que foi amiga e companheira de todos, principalmente das duas, em mais intensidade da Marta, especialmente no tempo em que morávamos em Jaú.
Naquela época, já quase no final de nossa estada por aqueles lados, eu já trabalhava em Ribeirão Preto viajando pelo interior, e a única companhia de uma para outra, eram a Marta e a Jully, esse o seu nome.

Por um bom tempo ela foi a única companhia de minha esposa lá em Jaú. Quantas vezes lembro-me agora, eu regressava de viagem numa sexta feira, lá pelas onze da noite, pegava suas coleira e guia e saíamos pelas ruas da cidade tranquila e adormecida, para ela fazer sua caminhada habitual. Isso porque não gostava dela, vejam!

Esteve ao nosso lado em tempos bons, não muito bons e até nos momentos ruins. Acompanhou-nos nas alegrias e nas tristezas. Aliás, nas situações que acontecem em toda família, vocês sabem...

Como todo animal novo, quando jovem era uma coisinha bonitinha, ainda que não tivesse pedigree, e SRD fosse a denominação de sua categoria: Sem Raça Definida. Brincalhona, alegre, e tudo que pode ser uma cadelinha vira-latas recém-adotada. Acho que fazia tanta festa aos novos donos de medo de ser novamente colocada para fora de casa.

Passou por sérios problemas de saúde, e, em três ou quatro ocasiões chegamos a pensar que seria o fim, mas passou por eles, em alguns casos ficou até melhor que antes dos problemas. Ultimamente, pela idade, já não era uma cadela bonita. Estava feinha, não enxergava direito, e com problemas de saúde que a veterinária sempre alegava ser devido ao muito tempo de vida que tinha. Desajeitada, não conseguia mais pegar no alto um ou outro pedaço de alimento ou de ração que jogávamos para ela abocanhar, coisa que fazia com perfeição antigamente. Qualquer animalzinho pequeno tirava-lhe o que estivesse comendo.

Nos tempos atuais tinha assumido o costume esquisito de ficar sempre andando: entrava pela porta da cozinha, atravessava a casa e saia pela porta da sala, ou vice-versa, dava volta no quintal, entreva por uma porta e saia por outra. Pedia para ir ao gramado da frente e quando lá chegava queria voltar. Ficava andando o tempo todo, sem parada.

Nesses momentos eu a chamava de “estrupício”, nome que, diga-se de passagem, não é muito bonito, mas, usava-o numa cadela velha, e não para uma jovem secretária, como fazia um Gerente numa das empresas em que trabalhei.

Recentemente teve crise de convulsão e alguns problemas de saúde que tratamos, mas o prognóstico da elevada idade a acompanhava sempre.

Em casa brincávamos, dizendo que ela tinha perdido outra oportunidade de ser uma cadela de companhia lá “no outro mundo” a mais um famoso que tinha partido fazendo alusão ao fato de que poderia ter seguido no mesmo momento em que nos deixava algum artista, apresentadora de TV ou pessoa famosa.

Hoje pela manhã, após uns maus momentos pela madrugada, ela se foi...

Sinceramente quando a vi, ou melhor, quando vi seu corpo inerte, bastante magro, numa posição que mostraria certo desconforto se tivesse viva, me aproximei e senti sua frieza e a ausência de vida, reconheço que fiquei bem chateado...

A partir de agora ficamos eu, a Marta e a Camila, ficando restrita a família Reis a nós três. Acabara de nos deixar o último ser vivente, não contando as coisas materiais, que nos ligava ao nosso passado. Durante o tempo em que esteve conosco, nos deixaram: meu sogro, minha sogra e, por último, minha mãe. Meu cunhado tinha partido uns dois ou três meses antes dela chegar.

E foi assim, um dia após o dia marcado para o fim do mundo dos humanos, que não ocorreu, que o mundo acabou para a Jully.

Nesta madrugada ela foi embora...




Sábado, 22 de dezembro de 2012.



Eli dos Reis


quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Você, o Presente!





Lendo um artigo de Julie Ackerman Link ao qual ela dera o nome de “O Presente”, fui levado a pensar em como seríamos sendo um presente à pessoa, ou pessoas, com quem nos relacionamos e temos envolvimento. Ela falava justamente no desafio que recebera em pensar de maneira diferente a vinda de Cristo ao meio dos homens. Logicamente poderão ser levados a esse pensamento aqueles que como nós O consideramos como um homem especial, aos outros pouca ou nenhuma diferença fará. Na reflexão fora levada a pensar n’Ele como sendo o presente que deu a seu Pai.

Quantas vezes pensamos nisso? Eu sou o Presente ideal e bom àqueles com quem convivo? Tenho satisfeito as suas expectativas? Ou sou aquele presente que as pessoas recebem, mas, na realidade são presentes que satisfazem a quem dá o presente? Um presente que às vezes é mais um recado que um presente?

É assim que normalmente agimos no nosso dia-a-dia: na maioria das vezes somos o centro das coisas, quando na realidade, todos, deveríamos agir como sendo apenas mais um do todo, e não o centro do todo. Pensamos e falamos não para satisfazer os outros, mas para nos satisfazer, querendo dar a impressão de que é para o terceiro ou terceiros, que agimos da forma com que fazemos as coisas.

Olhe à sua volta. Veja todas as posturas de todos que nos cercam. Normalmente todos agem assim, e os que não fazem assim, no mundo atual, muitas das vezes são considerados os chatos, arrogantes e por aí vai. Somente por que são diferentes. Seja a diferença boa ou má, não importa: não é como a maioria, é desconsiderado.

Claro que em algumas vezes os que pensamos assim, estamos certos na nossa consideração de este “diferente” ser exemplo de erva daninha, mas em grande parte das ocasiões estamos enganados em considerar o diferente como errado.

Nessas considerações temos exemplos de grande peso para um povo inteiro. Imagine um presidente que chega à grande população como sendo “O Presente”, como aquela pessoa ideal que vem para, com base na honestidade e correição, resolver os problemas de todos os que votaram nele. No decorrer dos tempos mostra a todos que o presente apenas pensava nele, na sua família e na sua comitiva.

Um presente de Grego, conforme o ditame popular.

Claro meu exemplo, foi muito impactante, mas cá mais embaixo, como temos sido com os que nos rodeiam?

Eu, especificamente: Tenho sido um bom presente?

Quem me recebe, está satisfeito comigo? Realmente atendi às expectativas do presenteado?

Ou estou novamente empacotado, colocado naquele cantinho, aguardando a oportunidade de ser trocado por outro que atenda aos anseios de quem me recebeu?

Pensemos nisso, afinal estamos em época de Natal.

Feliz Natal a todos!



Eli dos Reis





PS: Feliz Natal sim, porque essa história de fim de mundo é mais uma historinha de quem anda vivendo sem ter em que ou em quem acreditar!




terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Esta postagem eu não escrevi.




Realmente, esta postagem eu não escrevi. A autoria é de minha esposa, companheira e cúmplice, de longa data, Maria Marta.

Para os amigos e colegas, Marta; para os familiares, apenas Má.

Sim, escreveu e foi trabalhar.

Encontrei o texto sobre minha mesa de trabalho, na segunda, dia em que como disse, completei três anos de nova vida.


Vamos ao texto:



Eli...
Bom dia!
Sei que hoje é um dia muito importante pra você. Afinal, há três anos atrás, você passava pela experiência mais difícil de sua vida.
Por mais que a gente sinta, só você é quem sabe o que passou.
Mas, quero te dizer que sou grata a Deus, por ter te dado essa oportunidade de um recomeço.
Sabemos que em tudo Deus tem um propósito para nossas vidas, mesmo que na hora não consigamos entender.
Saiba que te amo muito (embora às vezes tenhamos divergências), mas quero que você nunca duvide disso e jamais pense novamente que não quero que você esteja bem.
Que Deus continue te abençoando em todos os sentidos – profissional, espiritual, familiar, de relacionamento – e que você permaneça bem e conosco por muito, muito tempo...
Bom dia,
Deus te abençoe,

Marta
03/12/2012

PS.: Desculpe a letra, mas é que tenho pouco tempo.
(Sair para o trabalho).



domingo, 2 de dezembro de 2012

02 de Dezembro de 2009!




Neste dia, um dos mais angustiosos daquele ano, eu encontrava-me em tremenda aflição e expectativa, pois, logo após o almoço deveria me internar para passar pela cirurgia de coração que dividiria minha vida em antes e depois dela.

A maioria das pessoas de meu relacionamento que sabiam do que se avizinhava, diziam:

Hoje em dia é tranquilo, a medicina está bem avançada e os médicos contam com métodos super desenvolvidos. Os recursos são os melhores possíveis. Vá tranquilo.

Outros, os meus irmãos ainda mais chegados, falavam:

O Senhor será contigo. Estará guiando os médicos para operarem da melhor forma. Tudo vai passar você vai ver.

Quieto, com os meus botões, eu pensava:
    - Tudo bem, mas serei eu quem estará lá!

Para mim esse era o grande problema: seria eu quem estaria sendo cirurgiado, com minhas artérias sendo consertadas numa “cirurgia de revascularização coronariana”, conforme o termo que decorei após a cirurgia, para dizer o que havia acontecido comigo.

Tinha retornado à cidade de origem, após um período de aprendizado vivido em Jaú na região de Bauru – São Paulo, cidade que me propiciou amizades maravilhosas e experiências fantásticas de relacionamento com as pessoas e com Deus. Tinha vivenciado ali, eu e minha esposa, uma renovação espiritual e em nossa vida. Tudo estava recomeçando.

Em março do mesmo 2009, já havia feito uma cirurgia, esta de extração da vesícula através de vídeo laparoscopia, que não chegou a ser tão traumática como pensei, mas com um período de recuperação bem incomodo. No momento desta cirurgia eu pensava:

Estou sendo restaurado, graças à boa vontade de Deus para comigo.

Entretanto, não sabia que para o início dessa restauração a que me referia, eu deveria descer mais um pouco em angústia e preocupação: a cirurgia de coração.

E ela viria, exatamente oito meses depois. Tinha passado pela recuperação da colecistectomia laparoscópica, voltado a trabalhar, mas começaram as dores e sintomas característicos de problemas cardíacos, que eu procurava entender como resquícios da vesícula. Mas quem não a tem mais, pode sentir dores?

A procura de explicações me levou a médicos e exames até que, no final de outubro veio a declaração dada pela Cardiologista:

    - O senhor terá que fazer cirurgia para colocação de ponte de safena. E imagino que terão que ser três ou quatro!

Faltou chão naquele momento. Parecia que tudo se encerrava ali. O mundo parecia ter parado à minha volta, e, só conseguia ver a mim mesmo e imaginando o pior.

Desde moleque que eu tinha uma imagem de cirurgias deste tipo, como sendo tudo de pior que uma pessoa adulta pudesse enfrentar. Era voz corrente na minha adolescência: quem tivesse que se submeter a essa operação, estava no fim da linha, no fim da carreira. Naquele momento, para mim, o fim.

Mas continuei confiando em que se nos é permitido alguns problemas é porque somos capazes de passar por eles. Claro que não foi fácil entender e aceitar esta fase. Foram muitos momentos e angustia e pedidos de fortalecimento a Deus.

Foi também período de muita pesquisa em livros e sites (principalmente) médicos e de artigos científicos que tratavam do assunto até eu começar a ver as coisas com um pouco mais de esperança. Entretanto dos últimos dias de outubro ao dia de minha internação, 02 e da cirurgia, 03 de dezembro, foram 35 dias que pareceram séculos. Já estava conformado com a cirurgia e a preocupação agora recaía sobre o período de recuperação. A abertura do peito mediante incisão ampla da parede do quadrante superior do abdômen causa, no pós-cirúrgico dor pós-operatória significativa além de possibilidades de complicações próprias das incisões operatórias, pois, ao mesmo tempo desta, é necessária outra, de extração da veia safena (na perna) que exige uma abertura da altura do joelho até a altura do calcanhar.

Isso eu já assumia quando dizia a minha esposa e a minha filha:

- Não me preocupo com a cirurgia (e não me preocupava mesmo, apesar do medo e expectativa), pois, estarei anestesiado.

E continuava:

Minha preocupação, se eu voltar do centro cirúrgico, é com a recuperação pós-operatória.

Elas não gostavam desta condicionante “se eu voltar”, mas era uma realidade e possibilidade, desde o momento da anestesia, passando pela cirurgia em si, até chegar a possibilidades de complicações na recuperação, realizada na UTI.

Minha cirurgia foi realizada dentro do tempo programado, e minha restauração pós-cirúrgica me deixou quase uma semana inteira na UTI. Eu sempre pensava que Deus estaria ali comigo. Depois da cirurgia tinha certeza.

Fiquei sabendo depois de dois dias, já na UTI, que na manhã da minha operação, um dos homens que fora operado do mesmo órgão que eu, só teve seu coração reanimado ou voltado a bater (sim, voltado a bater, pois, durante o tempo de cirurgia ele literalmente para e a circulação sanguínea passa a ser realizada por equipamentos) após a quarta tentativa realizada pela equipe médica.

Nunca perguntei quem foi essa pessoa. Preferi a dúvida, mas, tenho a certeza de que estou “renovado”.

Na UTI, logo após meu retorno da cirurgia e acomodação no leito típico de uma unidade de terapia intensiva, com todos aqueles aparatos, equipamentos e monitores de vídeo e aqueles ruídos característicos, ainda entubado, passei por outro momento terrível: comecei a sentir-me sufocado, engasgado é o termo melhor adequado.

Tentei chamar um dos enfermeiros, mas, terrível constatação: estava preso, amarrado ao leito, providencia para evitar me movimentar devido minha situação. Assim sem conseguir engolir devido aos tubos e sem respirar devido ao acúmulo de saliva e secreção na garganta, comecei a sentir falta de ar, que por sua vez associou-se ao pânico por não conseguir falar e nem chamar pessoas por sinais, pois, amarrado, senti o fim rondando-me de novo.

Até que, graças à providência do nosso Pai Maior, um dos enfermeiros lá da sua mesa distante viu meus movimentos de desespero e gritou:

- Pessoal, o Sr. Eli!

Ato contínuo foi, todos os que estavam na UTI, correrem ao meu leito, me acudirem e me restabelecerem daquela situação terrível.

Depois destes dias de centro cirúrgico, UTI e apartamento, em internação, iniciada a recuperação com exercícios específicos para pleno restabelecimento dos pulmões, que sofrem muito (o que eu nem imaginava) em cirurgias de coração, comecei a me animar, pois, o pessoal do hospital, salvo um início de processo de infecção debelado rapidamente, dizia estar sendo o meu restabelecimento um dos melhores, embora não soubessem por quê.

Eu sabia!

Sabia desde o dia em que o médico me confidenciou que houvera um derramamento de sangue em meu pulmão, que se não fosse absorvido e recuperada a sua volta à normalidade, poderia deixar consequências não muito boas. Mas tudo correu da forma melhor possível. Minha fisioterapeuta me incentivava a fazer os exercícios para fortalecimento e retorno de operações em condições normais de meus pulmões.

Fazia tudo que ela indicava e mais um pouco. Isso me ajudou nesta fase difícil, além de ter sido fato motivador de plena e rápida recuperação.
Os dois últimos instantes de medo por que passei foram sentidos já no apartamento, após a alta da UTI. Em ambos mentalmente entreguei-me por completo nas mãos de Deus dizendo que senão fosse por Ele, não teria forças para passar para a próxima etapa.

O primeiro desses momentos foi aquele em que um médico e um enfermeiro vieram retirar do meu peito, onde estavam alojados, os apetrechos metálicos de drenagem por onde estiveram sendo eliminados os líquidos, sangue, e secreção que comumente ocorrem no momento e no pós-cirurgia. O médico respondeu à pergunta do enfermeiro, alegando que ele mesmo faria, e, disse-me para “aguentar” um pouquinho de dor, segundo ele, normal nessa situação. De olhos fechados, fiz o que disse no parágrafo anterior, e continuei de olhos fechados.

- Pronto Sr. Eli, disse ele.

Ao que respondi, agradecendo e perguntando se tinha terminado.

- Não sentiu nada?

Eu disse:

- Não.

De novo ele:

- Não doeu?

Como repeti a resposta negativamente, olhou para o enfermeiro, sorriu, disse algo que não entendi e saíram da sala deixando-me só.

O segundo momento foi quando uma médica veio até meu leito, já quase nos dias de minha alta, conforme me havia falado antes, para retirar os dois fios de cabos-eletrodos que ficam presos ao coração para serem utilizados em caso de necessidade de estímulo externo no caso de parada cardíaca, ou de funcionamento irregular.

Já se havia passado mais de uma semana e ambos atravessavam meu peito e afixados na parede do coração. O processo de cicatrização estava em andamento e estavam colados (grudados, mesmo) no meu corpo. Ela me informou:

- Sr. Eli, como estão aderidos ao tecido, vou ter que movimentá-los até soltá-los da caixa do tórax, depois vou retirá-los mediante um puxão breve e rápido.

Imaginem o que eu fiz. Novamente de olhos fechados e conversando com Ele, enquanto a médica ficava puxando e movimentando ambos os fiozinhos (um preto e um vermelho, de espessura pouco menor que estes fiozinhos de cor cinza utilizados em extensões internas nas ligações de telefones) que ficaram enroladinhos afixados a meu peito durante o tempo todo. Quando eles se soltaram, ela disse:

- Vou dar um puxão e o senhor vai sentir um incômodo... É como se o senhor sentisse seu coração ser puxado bruscamente para frente, e não deve doer.

Realmente não senti dor, apenas um puxão no meu órgão interno, como se ele tivesse sido puxado até bater na parede interna do tórax. Esse tempo todo em que ela permaneceu trabalhando em meu peito, estive conversando mentalmente com Deus. E não senti nada, realmente.

De volta a meu lar, o processo de recuperação domiciliar, que foi realmente muito difícil e dolorido, pelas características da cirurgia, foi longo...
...seis meses, no mínimo, mas, seis meses que pareciam anos.

Mas sempre tinha em mente as palavras que Jesus disse certa ocasião:

- No mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo!

Aqueles que, como eu, tem o hábito de ler a Bíblia conhecem bem o significado destas palavras de Jesus e o que elas representam para nos.

Nestes três anos muitas, mas muitas coisas aconteceram, e sobre elas estarei escrevendo oportunamente.

Mas, pelo que foi esta cirurgia, pelo susto por que passei, uma coisa muito importante tenho para comigo hoje:
Sinto-me como se estivesse vivendo minha prorrogação de tempo regulamentar na minha vida.

Aprendi a dar mais valor a tanta coisa em que antes nem pensava.

A me preocupar mais e mais com os relacionamentos.

A viver intensamente cada momento.

Tenho que melhorar muito ainda, mas afinal tenho apenas três anos de vida.






Se gostaram desta leitura,
deste depoimento,compartilhem.
É uma forma de estarmos fortalecendo alguém!
Não é?



Eli dos Reis

(Se alguém quiser ver uma foto pós cirurgia, peça-a que enviarei)