Ela entrou em casa por insistência da Camila, que na
época era Camilinha, e da mãe, defendendo a sua filha ou a filha de outra, no
caso uma cadela que nunca saberemos quem foi. E assim ela passou a primeira
noite. O compromisso era apenas naquela noite, no dia seguinte ela partiria, ou
seguiria seu caminho, assumindo sua situação de abandonada pelos donos.
Na noite seguinte, adivinhem o que aconteceu:
- Ah pai, só mais essa noite, depois ela vai...
Isso foi há 16 anos. Hoje sua história confunde-se com a
nossa, pois, daquele final de tarde até agora participou de todos os episódios
da família, estando conosco na Camilo de Matos, na São Salvador, na cidade de
Jaú, e atualmente, Antonio e Helena Zerrenner.
Eu, que não a queria em casa, para falar a verdade, nunca
a tive entre aqueles de quem mais gostasse, mas aceitava-a sòmente pela Camila.
Acho que em algumas situações, mais a “suportava” do que aceitava, e as duas,
mãe e filha notavam isso com toda clareza.
Mas, tenho que admitir que foi amiga e companheira de todos,
principalmente das duas, em mais intensidade da Marta, especialmente no tempo
em que morávamos em Jaú.
Naquela época, já quase no final de nossa estada por
aqueles lados, eu já trabalhava em Ribeirão Preto viajando pelo interior, e a
única companhia de uma para outra, eram a Marta e a Jully, esse o seu nome.
Por um bom tempo ela foi a única companhia de minha
esposa lá em Jaú. Quantas vezes lembro-me agora, eu regressava de viagem numa
sexta feira, lá pelas onze da noite, pegava suas coleira e guia e saíamos pelas
ruas da cidade tranquila e adormecida, para ela fazer sua caminhada habitual.
Isso porque não gostava dela, vejam!
Esteve ao nosso lado em tempos bons, não muito bons e até
nos momentos ruins. Acompanhou-nos nas alegrias e nas tristezas. Aliás, nas
situações que acontecem em toda família, vocês sabem...
Como todo animal novo, quando jovem era uma coisinha
bonitinha, ainda que não tivesse pedigree, e SRD fosse a denominação de sua
categoria: Sem Raça Definida. Brincalhona, alegre, e tudo que pode ser uma
cadelinha vira-latas recém-adotada. Acho que fazia tanta festa aos novos donos
de medo de ser novamente colocada para fora de casa.
Passou por sérios problemas de saúde, e, em três ou
quatro ocasiões chegamos a pensar que seria o fim, mas passou por eles, em
alguns casos ficou até melhor que antes dos problemas. Ultimamente, pela idade,
já não era uma cadela bonita. Estava feinha, não enxergava direito, e com
problemas de saúde que a veterinária sempre alegava ser devido ao muito tempo
de vida que tinha. Desajeitada, não conseguia mais pegar no alto um ou outro
pedaço de alimento ou de ração que jogávamos para ela abocanhar, coisa que
fazia com perfeição antigamente. Qualquer animalzinho pequeno tirava-lhe o que
estivesse comendo.
Nos tempos atuais tinha assumido o costume esquisito de
ficar sempre andando: entrava pela porta da cozinha, atravessava a casa e saia
pela porta da sala, ou vice-versa, dava volta no quintal, entreva por uma porta
e saia por outra. Pedia para ir ao gramado da frente e quando lá chegava queria
voltar. Ficava andando o tempo todo, sem parada.
Nesses momentos eu a chamava de “estrupício”, nome que,
diga-se de passagem, não é muito bonito, mas, usava-o numa cadela velha, e não
para uma jovem secretária, como fazia um Gerente numa das empresas em que
trabalhei.
Recentemente teve crise de convulsão e alguns problemas
de saúde que tratamos, mas o prognóstico da elevada idade a acompanhava
sempre.
Em casa brincávamos, dizendo que ela tinha perdido outra
oportunidade de ser uma cadela de companhia lá “no outro mundo” a mais um
famoso que tinha partido fazendo alusão ao fato de que poderia ter seguido no
mesmo momento em que nos deixava algum artista, apresentadora de TV ou pessoa
famosa.
Hoje pela manhã, após uns maus momentos pela madrugada,
ela se foi...
Sinceramente quando a vi, ou melhor, quando vi seu corpo
inerte, bastante magro, numa posição que mostraria certo desconforto se tivesse
viva, me aproximei e senti sua frieza e a ausência de vida, reconheço que
fiquei bem chateado...
A partir de agora ficamos eu, a Marta e a Camila, ficando
restrita a família Reis a nós três. Acabara de nos deixar o último ser vivente,
não contando as coisas materiais, que nos ligava ao nosso passado. Durante o
tempo em que esteve conosco, nos deixaram: meu sogro, minha sogra e, por
último, minha mãe. Meu cunhado tinha partido uns dois ou três meses antes dela
chegar.
E foi assim, um dia após o dia marcado para o fim do
mundo dos humanos, que não ocorreu, que o mundo acabou para a Jully.
Nesta madrugada ela foi embora...
Sábado, 22 de dezembro de 2012.
Eli dos Reis
Muito bacana a história!!!
ResponderExcluirDescnasou, estava já com a idade avançada,né? Sentiremos a sua falta!
ResponderExcluirbjs,bjs