Neste dia,
um dos mais angustiosos daquele ano, eu encontrava-me em tremenda aflição e expectativa,
pois, logo após o almoço deveria me internar para passar pela cirurgia de
coração que dividiria minha vida em antes e depois dela.
A maioria
das pessoas de meu relacionamento que sabiam do que se avizinhava, diziam:
- Hoje em dia é tranquilo, a medicina está bem avançada e os médicos contam com métodos super desenvolvidos. Os recursos são os melhores possíveis. Vá tranquilo.
- Hoje em dia é tranquilo, a medicina está bem avançada e os médicos contam com métodos super desenvolvidos. Os recursos são os melhores possíveis. Vá tranquilo.
Outros, os
meus irmãos ainda mais chegados, falavam:
- O Senhor será contigo. Estará guiando os médicos para operarem da melhor forma. Tudo vai passar você vai ver.
- O Senhor será contigo. Estará guiando os médicos para operarem da melhor forma. Tudo vai passar você vai ver.
Quieto, com
os meus botões, eu pensava:
- Tudo
bem, mas serei eu quem estará lá!
Para mim
esse era o grande problema: seria eu quem estaria sendo cirurgiado, com minhas
artérias sendo consertadas numa “cirurgia de revascularização coronariana”, conforme
o termo que decorei após a cirurgia, para dizer o que havia acontecido comigo.
Tinha
retornado à cidade de origem, após um período de aprendizado vivido em Jaú na
região de Bauru – São Paulo, cidade que me propiciou amizades maravilhosas e
experiências fantásticas de relacionamento com as pessoas e com Deus. Tinha
vivenciado ali, eu e minha esposa, uma renovação espiritual e em nossa vida.
Tudo estava recomeçando.
Em março do
mesmo 2009, já havia feito uma cirurgia, esta de extração da vesícula através
de vídeo laparoscopia, que não chegou a ser tão traumática como pensei, mas com
um período de recuperação bem incomodo. No momento desta cirurgia eu pensava:
- Estou sendo restaurado, graças à boa vontade de Deus para comigo.
- Estou sendo restaurado, graças à boa vontade de Deus para comigo.
Entretanto,
não sabia que para o início dessa restauração a que me referia, eu deveria
descer mais um pouco em angústia e preocupação: a cirurgia de coração.
E ela viria,
exatamente oito meses depois. Tinha passado pela recuperação da colecistectomia
laparoscópica, voltado a trabalhar, mas começaram as dores e sintomas característicos
de problemas cardíacos, que eu procurava entender como resquícios da vesícula.
Mas quem não a tem mais, pode sentir dores?
A procura de explicações me levou a médicos e exames até que, no final
de outubro veio a declaração dada pela Cardiologista:
- O senhor terá que fazer cirurgia para colocação de
ponte de safena. E imagino que terão que ser três ou quatro!
Faltou chão naquele momento. Parecia que tudo se encerrava ali. O mundo
parecia ter parado à minha volta, e, só conseguia ver a mim mesmo e imaginando
o pior.
Desde moleque que eu tinha uma imagem de cirurgias deste tipo, como
sendo tudo de pior que uma pessoa adulta pudesse enfrentar. Era voz corrente na
minha adolescência: quem tivesse que se submeter a essa operação, estava no fim
da linha, no fim da carreira. Naquele momento, para mim, o fim.
Mas continuei confiando em que se nos é permitido alguns problemas é
porque somos capazes de passar por eles. Claro que não foi fácil entender e
aceitar esta fase. Foram muitos momentos e angustia e pedidos de fortalecimento
a Deus.
Foi também período de muita pesquisa em livros e sites (principalmente)
médicos e de artigos científicos que tratavam do assunto até eu começar a ver
as coisas com um pouco mais de esperança. Entretanto dos últimos dias de
outubro ao dia de minha internação, 02 e da cirurgia, 03 de dezembro, foram 35
dias que pareceram séculos. Já estava conformado com a cirurgia e a preocupação
agora recaía sobre o período de recuperação. A abertura do peito mediante incisão
ampla da parede do quadrante superior do abdômen causa, no pós-cirúrgico dor
pós-operatória significativa além de possibilidades de complicações próprias das
incisões operatórias, pois, ao mesmo tempo desta, é necessária outra, de
extração da veia safena (na perna) que exige uma abertura da altura do joelho
até a altura do calcanhar.
Isso eu já assumia
quando dizia a minha esposa e a minha filha:
- Não
me preocupo com a cirurgia (e não me preocupava mesmo, apesar do medo e
expectativa), pois, estarei anestesiado.
E continuava:
- Minha preocupação, se eu voltar do centro cirúrgico, é com a recuperação pós-operatória.
- Minha preocupação, se eu voltar do centro cirúrgico, é com a recuperação pós-operatória.
Elas não
gostavam desta condicionante “se eu voltar”, mas era uma realidade e
possibilidade, desde o momento da anestesia, passando pela cirurgia em si, até
chegar a possibilidades de complicações na recuperação, realizada na UTI.
Minha
cirurgia foi realizada dentro do tempo programado, e minha restauração pós-cirúrgica
me deixou quase uma semana inteira na UTI. Eu sempre pensava que Deus estaria
ali comigo. Depois da cirurgia tinha certeza.
Fiquei
sabendo depois de dois dias, já na UTI, que na manhã da minha operação, um dos
homens que fora operado do mesmo órgão que eu, só teve seu coração reanimado ou
voltado a bater (sim, voltado a bater, pois, durante o tempo de cirurgia ele
literalmente para e a circulação sanguínea passa a ser realizada por
equipamentos) após a quarta tentativa realizada pela equipe médica.
Nunca
perguntei quem foi essa pessoa. Preferi a dúvida, mas, tenho a certeza de que
estou “renovado”.
Na UTI, logo
após meu retorno da cirurgia e acomodação no leito típico de uma unidade de
terapia intensiva, com todos aqueles aparatos, equipamentos e monitores de
vídeo e aqueles ruídos característicos, ainda entubado, passei por outro
momento terrível: comecei a sentir-me sufocado, engasgado é o termo melhor
adequado.
Tentei
chamar um dos enfermeiros, mas, terrível constatação: estava preso, amarrado ao
leito, providencia para evitar me movimentar devido minha situação. Assim sem
conseguir engolir devido aos tubos e sem respirar devido ao acúmulo de saliva e
secreção na garganta, comecei a sentir falta de ar, que por sua vez associou-se
ao pânico por não conseguir falar e nem chamar pessoas por sinais, pois,
amarrado, senti o fim rondando-me de novo.
Até que, graças
à providência do nosso Pai Maior, um dos enfermeiros lá da sua mesa distante
viu meus movimentos de desespero e gritou:
- Pessoal,
o Sr. Eli!
Ato contínuo
foi, todos os que estavam na UTI, correrem ao meu leito, me acudirem e me restabelecerem
daquela situação terrível.
Depois
destes dias de centro cirúrgico, UTI e apartamento, em internação, iniciada a
recuperação com exercícios específicos para pleno restabelecimento dos pulmões,
que sofrem muito (o que eu nem imaginava) em cirurgias de coração, comecei a me
animar, pois, o pessoal do hospital, salvo um início de processo de infecção
debelado rapidamente, dizia estar sendo o meu restabelecimento um dos melhores,
embora não soubessem por quê.
Eu sabia!
Sabia desde
o dia em que o médico me confidenciou que houvera um derramamento de sangue em
meu pulmão, que se não fosse absorvido e recuperada a sua volta à normalidade,
poderia deixar consequências não muito boas. Mas tudo correu da forma melhor
possível. Minha fisioterapeuta me incentivava a fazer os exercícios para fortalecimento
e retorno de operações em condições normais de meus pulmões.
Fazia tudo
que ela indicava e mais um pouco. Isso me ajudou nesta fase difícil, além de
ter sido fato motivador de plena e rápida recuperação.
Os dois
últimos instantes de medo por que passei foram sentidos já no apartamento, após
a alta da UTI. Em ambos mentalmente entreguei-me por completo nas mãos de Deus
dizendo que senão fosse por Ele, não teria forças para passar para a próxima
etapa.
O primeiro
desses momentos foi aquele em que um médico e um enfermeiro vieram retirar do
meu peito, onde estavam alojados, os apetrechos metálicos de drenagem por onde estiveram
sendo eliminados os líquidos, sangue, e secreção que comumente ocorrem no
momento e no pós-cirurgia. O médico respondeu à pergunta do enfermeiro,
alegando que ele mesmo faria, e, disse-me para “aguentar” um pouquinho de dor,
segundo ele, normal nessa situação. De olhos fechados, fiz o que disse no
parágrafo anterior, e continuei de olhos fechados.
- Pronto
Sr. Eli, disse ele.
Ao que
respondi, agradecendo e perguntando se tinha terminado.
- Não
sentiu nada?
Eu disse:
- Não.
De novo ele:
- Não
doeu?
Como repeti
a resposta negativamente, olhou para o enfermeiro, sorriu, disse algo que não
entendi e saíram da sala deixando-me só.
O segundo
momento foi quando uma médica veio até meu leito, já quase nos dias de minha
alta, conforme me havia falado antes, para retirar os dois fios de cabos-eletrodos
que ficam presos ao coração para serem utilizados em caso de necessidade de
estímulo externo no caso de parada cardíaca, ou de funcionamento irregular.
Já se havia
passado mais de uma semana e ambos atravessavam meu peito e afixados na parede
do coração. O processo de cicatrização estava em andamento e estavam colados
(grudados, mesmo) no meu corpo. Ela me informou:
- Sr.
Eli, como estão aderidos ao tecido, vou ter que movimentá-los até soltá-los da
caixa do tórax, depois vou retirá-los mediante um puxão breve e rápido.
Imaginem o
que eu fiz. Novamente de olhos fechados e conversando com Ele, enquanto a
médica ficava puxando e movimentando ambos os fiozinhos (um preto e um
vermelho, de espessura pouco menor que estes fiozinhos de cor cinza utilizados
em extensões internas nas ligações de telefones) que ficaram enroladinhos
afixados a meu peito durante o tempo todo. Quando eles se soltaram, ela disse:
- Vou
dar um puxão e o senhor vai sentir um incômodo... É como se o senhor sentisse
seu coração ser puxado bruscamente para frente, e não deve doer.
Realmente
não senti dor, apenas um puxão no meu órgão interno, como se ele tivesse sido
puxado até bater na parede interna do tórax. Esse tempo todo em que ela permaneceu trabalhando em meu peito, estive
conversando mentalmente com Deus. E não senti nada, realmente.
De volta a
meu lar, o processo de recuperação domiciliar, que foi realmente muito difícil
e dolorido, pelas características da cirurgia, foi longo...
...seis meses,
no mínimo, mas, seis meses que pareciam anos.
Mas sempre
tinha em mente as palavras que Jesus disse certa ocasião:
- No
mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo. Eu venci o mundo!
Aqueles que,
como eu, tem o hábito de ler a Bíblia conhecem bem o significado destas palavras
de Jesus e o que elas representam para nos.
Nestes três
anos muitas, mas muitas coisas aconteceram, e sobre elas estarei escrevendo
oportunamente.
Mas, pelo
que foi esta cirurgia, pelo susto por que passei, uma coisa muito importante
tenho para comigo hoje:
Sinto-me como se estivesse vivendo minha prorrogação de tempo regulamentar na minha vida.
Sinto-me como se estivesse vivendo minha prorrogação de tempo regulamentar na minha vida.
Aprendi a
dar mais valor a tanta coisa em que antes nem pensava.
A me
preocupar mais e mais com os relacionamentos.
A viver
intensamente cada momento.
Tenho que
melhorar muito ainda, mas afinal tenho apenas três anos de vida.
Se gostaram desta leitura,
deste depoimento,compartilhem.
É uma forma de estarmos fortalecendo alguém!
Não é?
Eli dos Reis
(Se alguém quiser ver uma foto pós cirurgia, peça-a que enviarei)
Graças a Deus já passou tudo isso!
ResponderExcluiramo-te
bjs,bjs
Edna, obrigado pelo comentário.
ResponderExcluirQue achou? Escrevo bem? Parece um escritor?
Bom final de domingo, boa semana.
Fique com Deus,
Eli