terça-feira, 24 de novembro de 2015

Mudar a Argentina (por Míriam Leitão)


Excelente análise de Míriam Leitão, que como sempre nos traz, de uma forma lúcida e clara, os dados que nos mostram que o nosso Brasil terá jeito se deixar de lado essa mania de fazer tudo às avessas enquanto dominado por uma equipe corrupta, de um partido dominado por um ladrãozão, que de forma descarada e inconsequente, continua a se utilizar de políticas pouco recomendáveis.
Brasil, vamos seguir o rumo que a Argentina está nos indicando!


Boa leitura,



Mudar a Argentina

POR MÍRIAM LEITÃO
O presidente eleito da Argentina, Maurício Macri, terá um duro trabalho pela frente para tirar o país da crise. Ao fazer um movimento para resolver um problema, piorará outro. A desvalorização do peso elevará ainda mais a inflação. A suspensão do controle cambial pode esgotar as poucas reservas que tem. Seu maior aliado será a volta da confiança, depois de uma década de políticas econômicas equivocadas.
A Argentina está com inflação alta, câmbio artificial e controlado, tarifas reprimidas, economia estagnada, falta de reservas cambiais, conflitos com os credores, déficit nas contas públicas. Por isso, a principal pergunta ontem na primeira entrevista era sobre o nome do ministro da economia. Macri avisou que cinco ministros farão parte do conselho econômico. Evidentemente, o ministro da Fazenda será o decisivo neste conselho, mas o que ficou claro é que não haverá um superministro.
Além da estagnação com inflação elevada, em torno de 30%, o país enfrenta uma crise cambial. Precisa controlar a compra interna de dólares, sob pena de queimar o pouco que resta de suas reservas. Há quatro anos, quando Cristina Kirchner tomou posse no seu segundo mandato, o Banco Central argentino tinha US$ 47,8 bilhões de reservas. Hoje, tem US$ 25,3 bi. Desde janeiro, as reservas caíram 17%. Se for excluído o empréstimo concedido pela China e o que a Argentina terá que pagar a credores, o número cai para US$ 4 bilhões, segundo a equipe de análise do Itaú Unibanco.
O governo de Cristina Kirchner vinha tentando conter a desvalorização do peso, para não pressionar ainda mais a inflação em ano eleitoral. O país não tem acesso a crédito, porque está fora do mercado, e também sente os efeitos da queda dos preços das matérias-primas. Há menos entrada de dólares, seja pela via comercial, seja pela via financeira.
O economista-chefe para América Latina do Banco BNP Paribas, Marcelo Carvalho, explica que o ajuste será duro. Além da desvalorização da moeda, terá que acabar o represamento de preços públicos, principalmente na energia elétrica. Outro ponto crucial é conseguir um acordo com os credores da dívida.
— O novo presidente precisa negociar com os chamados holdouts. Isso é essencial para que o país volte a ter acesso ao mercado, possa se financiar, e atenuar a crise cambial — explicou Carvalho.
A equipe de análise do Itaú Unibanco espera uma desvalorização do peso em torno de 20% até o final do ano. Por isso, a projeção para inflação subiu para 32% em 2016, dos atuais 28%. A estimativa para a taxa de juros também foi elevada, de 23% para 30%, o que fará o país ter uma recessão de 0,5% no ano que vem, depois de estagnação este ano.
Outro desafio do novo presidente é resgatar a credibilidade dos números, depois de anos de intervenção no instituto de estatísticas, o Indec. O mercado tem indicadores sempre diferentes, seja para o crescimento, seja para a inflação na Argentina. Recentemente, o governo argentino lançou um novo índice de inflação que aproximou a taxa oficial dos cálculos feitos pelo mercado. Mesmo assim, será preciso ter mais transparência e independência no instituto oficial.
Uma grande preocupação dos economistas argentinos é a crise brasileira. O Brasil é o principal parceiro comercial do país e grande comprador de produtos industriais. Com a nossa recessão, haverá menos demanda por produtos argentinos, o que vai dificultar a recuperação.
Há um desentendimento com o Brasil com hora para acontecer. Durante o último debate, Maurício Macri disse que defenderia a suspensão da Venezuela do Mercosul por descumprimento da cláusula democrática. E perguntou se o candidato do governo assumiria o mesmo compromisso. Agora que ganhou, Macri terá que levar adiante o que apresentou ao adversário como desafio. Ontem, na primeira entrevista, ele reafirmou o que havia dito.
Macri terá pela frente uma conjuntura difícil. Mas, se conseguir injetar otimismo, terá meio caminho andado. Há exportações contidas, à espera de uma nova taxa de câmbio e da redução dos impostos sobre exportação que foram criados pelo governo Kirchner. Só isso já ajudaria a aumentar a entrada de dólares. A grande vantagem de Macri é que ele pode propor mudanças porque foi eleito para isso.

Excelente, não?

Eli dos Reis,
de Ribeirão Preto.

Publicado originalmente no endereço:
Acessado em 24Nov2015, 17h05min.

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