quarta-feira, 19 de setembro de 2012

REFÉM EM UMA GARAGEM



Refém em uma garagem de uma grande empresa de ônibus interestadual, em plena quarta feira, hoje, de madrugada.
Aconteceu comigo na madrugada deste dia 19, esta noite de terça para quarta feira: no trecho Araxá-Uberlândia, passageiro do ônibus que em sua viagem incluía o trecho Belo Horizonte a Ribeirão Preto, sofremos um assalto por volta das 03h00min. e enfrentamos as piores violências, que idênticas só havia visto em reportagens, em notícias de violências e matérias apelativas.
Nós, os dezoito passageiros mais três funcionários da empresa, presentes no ônibus, fomos humilhados, afrontados, xingados e alguns agredidos fisicamente. Levaram documentos pessoais, dinheiro, cartões de crédito e débito, celulares e artigos eletrônicos pequenos e grandes.
Fomos abandonados acuados, em meio a um matagal próximo à rodovia, dando graças a Deus por estarmos vivos e em condições de agradecer a Ele por ter passado por esta experiência a salvo de danos maiores que os materiais, exceto o motorista e mais dois, que além da humilhação tinham também as dores físicas pelo corpo.
Após a saída do local do infeliz episódio, e já na garagem da empresa termos passado pelo momento de relembrar os detalhes das afrontas recebidas, para expo-las aos policiais para os registros do Boletim de Ocorrência; alguns seguiram viagem ao destino, outro retornou a Belo Horizonte para as tratativas de reobtenção de toda sua documentação e providencias nos bancos; e eu fiquei.
Fiquei só, entre ônibus, motoristas cansados e funcionários envolvidos em suas rotinas habituais e nas novas relativas aos assaltos desta madrugada. Sim assaltos, pois, foram dois: um, o nosso que aqui relatei, e outro do trajeto Recife a São Paulo, num local não muito distante.
Todos os funcionários, acolhedores, cada um a seu modo faziam o que podiam para nos atender e tentar minimizar nosso desconforto da malfadada viagem.
Mas porque refém? Porque estava sem dinheiro, sem celular, sem banho e sem roupa limpa e emocionalmente arrasado, preocupado com a família e em como levar até ela a notícia. O sentimento, unânime, pude observar conversando com todos os participantes, era de uma enorme afronta e humilhação extrema; sendo agredidos verbal e fisicamente por assaltantes, xingados com palavrões que muitos ainda não tinham recebido. E todos receberam: homens, mulheres, jovens, velhos (alguns muito mais que eu), gente sadia ou não, todos. Até uma senhora cega (que, imaginem! é voluntária em um hospital em Goiânia) e regressava de viagem de visita à mãe idosa, doente. Esta senhora também foi humilhada e agredida verbalmente.
Refém, por que se saísse da garagem e seguisse em frente para tentar abreviar meu retorno a Ribeirão Preto (já que teria que aguardar lá até ter outro carro em trânsito para São Paulo que me traria à minha cidade) não passaria de um guichê ouvindo a resposta de que sem dinheiro não viajaria. Na rua, sem celular não falaria com meu pessoal, e os orelhões (alguém se lembra deles?) normalmente não funcionam. Alimentação nas redondezas só a dinheiro. Ainda bem que na hora do almoço a empresa me incluiu entre o seu pessoal e pude acompanhá-los nessa tarefa.
Então, a saída foi continuar refém aguardando o ônibus que viria de Cuiabá (ou Porto Velho, nem me lembro) sentido São Paulo para ir com ele.
Pelo menos lá tinha um sofá para descanso, água e café, e pessoas dispostas a conversar.

Eli dos Reis
de Uberlândia, quarta-feira, 19/09/12.












EM TEMPO:
Na estadia forçada na garagem de Uberlândia apurei que eu deveria estar em outro ônibus da mesma empresa, que saiu do mesmo local e no mesmo horário. Se estivesse nesse outro, não teria participado deste infeliz episódio. Aí fiquei achando que “meu destino” era passar por isso, mas aqu’Ele que permitiu que passássemos por tudo isso, foi O mesmo que nos livrou do pior, para sua honra e sua glória.

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