PREZADA
DORA KRAMER
Leitor habitual e apreciador de suas colunas e
comentários deparei-me com este de 21 de setembro passado, e comecei a pensar
em escrever-lhe sobre o voto não obrigatório, o que faço agora.
É um ponto de vista que sempre tive, e que normalmente
abordo em conversas no meu circulo de relacionamento, onde nem sempre encontro
apoio ou opinião unanime favorável, mas que, acho, seria de suma importância a
nós brasileiros.
Se nenhum político apresentou o assunto, ou propôs algo a
respeito, é porque, com certeza não interessaria ao seu meio, porque antes dos
interesses da população eleitora, consideram primeiro os seus próprios.
Concordo com os pontos apresentados na sua fala sobre
urna eletrônica e transmissão ao vivo dos julgamentos do STF, mas também acho
que deveríamos começar a pensar mais seriamente em propagar a ideia de termos
no Brasil a instituição do voto não obrigatório (ou livre), pois, entendo que
democracia que se preza não deveria instituir a obrigação dos eleitores em
comparecer frente às urnas para ali depositar seu voto, multando-o caso não o
faça.
Que democracia é esta que me obriga?
A grande massa da população carente de maior cultura e
entendimento vai votar porque é obrigada, e em assim sendo, na frente da urna
vai se lembrar daquele candidato que fez mais “micagens” na sua frente lá no horário de propaganda obrigatória do rádio ou da
TV.
Via de regra opta também por aqueles que lhe são mais
próximos por quaisquer razões, menos as que mais interessariam: de ter um
programa de governo, ou uma plataforma de ação detalhada, ou ainda compromisso
com a boa gestão e lisura de comportamento.
Para um eleitor sair de sua casa e ir votar numa eleição
livre, ele teria que ter real interesse naquele político com quem se identifica
e gostaria que se elegesse. E por sua vez os políticos teriam que apresentar
propostas reais e sérias para conquistar o eleitor e fazê-lo ir à seção
eleitoral votar nele.
Estaríamos assim, livres deste “nhé-nhé-nhém” no rádio e
na televisão, onde se gasta muito para se dizer nada.
Muitos dirão que desta forma muito poucos votariam. Pode
até acontecer, mas os eleitos teriam mostras de que foram realmente votados por
eleitores convictos e não por interesseiros de algo em troca, ou movidos por
uma identidade com alguém sem conteúdo, ou ainda, votos para demonstrar
insatisfação ou alguma outra coisa.
Talvez ficasse mais difícil para radialistas, apresentadores de programas de TV e palhaços se elegerem.
Talvez ficasse mais difícil para radialistas, apresentadores de programas de TV e palhaços se elegerem.
Mas esses, talvez não fizessem tanta falta.
Eli dos Reis
de Ribeirão Preto-SP
REPRODUÇÃO
DO ARTIGO DA COLUNISTA:
Sabor
jabuticaba
21 de setembro de 2012 | 3h 01
Dora Kramer - O Estado de S.Paulo
O
voto em urna eletrônica e a transmissão ao vivo de julgamentos do Supremo
Tribunal Federal são daquelas questões polêmicas na teoria, mas de resultado
comprovadamente positivo.
Inovações
brasileiras, ambas suscitam debate. Hoje muito menos do que quando surgiram.
Sobre o voto eletrônico aplicado pela primeira vez em 1996, persiste aqui e ali
o seguinte senão: sem possibilidade de registro por escrito, o sistema daria margem
a fraudes por impossibilitar a conferência.
O
sistema reconhecido nacional e internacionalmente como bem-sucedido, na prática
desmente os temores. Há muito não se ouve falar em fraude eleitoral e a
eficácia da apuração é incontestável.
Já
as transmissões diretas das sessões de julgamentos do STF são menos pacíficas.
Há restrições até entre os ministros da Corte, embora a maioria seja a favor
por se coadunar perfeitamente à transparência exigida da administração pública
pela Constituição.
Ainda
assim, restam as críticas: as transmissões teriam influência sobre o
comportamento dos ministros que, acompanhados "online", tenderiam a
votar conforme os desejos da opinião pública, deixando-se conduzir por fatores
extrajudiciais, cedendo à tentação de se transformar em figuras de grande
aceitação popular.
Seria
verdade?
Os
dez anos de existência da TV Justiça não dizem isso. Além das diversas ocasiões
em que o tribunal foi criticado por tomar decisões na contramão do senso comum,
se vigilância precisasse haver sobre a conduta dos ministros as câmeras e os
microfones mais ajudam que atrapalham. Aliás, não atrapalham em nada.
Há
a opinião do público leigo, mas há também o acompanhamento da chamada
comunidade jurídica. Nesse tempo todo, se tivesse havido distorção do papel do
Supremo por causa das transmissões ao vivo isso teria sido detectado e
denunciado.
O
que se tem, na realidade, é justamente o oposto: cada ministro se vê obrigado a
fundamentar muito bem seus argumentos nas doutrinas e na legislação em
decorrência da exposição total e permanente.
A
reação mais recente contra a sistemática das transmissões teve como porta-voz o
secretário de Comunicação do PT, deputado André Vargas, que apontou "risco
à democracia" nas sessões ao vivo.
Incongruente,
a posição. Pois se o PT vive denunciando que a "mídia" distorce no
noticiário, caso não houvesse transmissão o público saberia do julgamento só
por intermédio dos resumos feitos pelos veículos de comunicação ditos
"golpistas".
De
onde a transparência se comprova como a maior garantia de fidelidade aos fatos.
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