O golpe do golpe
Aécio Neves
13/07/2015 00h00
A velha cantilena usada de forma
estridente pelo governo petista sempre que se sente acuado já não surte efeito.
Mais uma vez, o grito de guerra de um hipotético complô contra o partido
está em curso. A estratégia tem uso recorrente. Em momentos distintos, já foi
usada para atacar a mídia, as elites intelectuais, os protestos de rua e por aí
afora.
Nesse raciocínio, tudo o que
contraria os interesses do PT é golpe. No atual contexto, a imprensa
divulga os escândalos do petrolão? Trata-se da imprensa golpista. O TCU analisa
as contas do governo Dilma? Para o PT é golpe. O TSE investiga se houve
recursos de propina na campanha da presidente? Golpe de
inconformados, dizem os petistas. A Polícia Federal e o Ministério Público
cumprem com independência suas funções? Golpe, dizem eles. Milhões de
pessoas ocupam as ruas com críticas ao governo? Trata-se de golpistas de
direita, analisa o partido. Ninguém escapa, somos todos golpistas –menos
os iluminados do PT.
Para eles, os outros são sempre
os culpados de todos os males. Os outros tramam dia e noite para tirar o PT do
poder. Não cola mais. Os brasileiros não aceitam mais o engodo.
A quem serve o factoide do golpe
criado na semana passada? Claramente uma estratégia do marketing
petista, a ideia de propagar com insistência uma mesma mentira,
repetidamente, em coro orquestrado, serve para tentar dar unidade e amplitude
ao discurso do seu fragilizado campo político. É uma velha receita seguida de
novo por todos os níveis do PT, do mais alto escalão ao militante pago para
insuflar as redes sociais. Entre lidar com a verdade ou se esconder na mentira,
o partido escolheu, de novo, evitar a realidade.
Sabemos todos –inclusive o PT–
que, felizmente, não existe espaço para nenhum retrocesso no sistema
democrático brasileiro. O que o partido teme, na verdade, é o funcionamento dos
instrumentos da nossa sociedade democrática.
Existe, sim, um grande golpe em
curso –mas ele vem do andar de cima. Um golpe contra os brasileiros que deram
ao governo um voto de confiança e que, em troca, receberam um bilhete de
entrada para um país em queda livre, com desemprego nas alturas, redução de
benefícios trabalhistas, inflação beirando a casa de dois dígitos em
algumas capitais, tarifas públicas em aumento crescente.
O mais grave neste cenário é a
incapacidade do governo de governar de fato. No lugar do trabalho
sério, a bravata. O governo e o PT fariam um enorme bem aos
brasileiros se imprimissem à gestão do país o mesmo vigor que despendem ao
incorporar roteiros mirabolantes ditados, mais uma vez, pelo marketing da
mentira e da conveniência.
Reprodução
FOLHA DE SÃO PAULO - OPINIÃO
AÉCIO NEVES escreve às segundas-feiras
nesta coluna.
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