sexta-feira, 29 de junho de 2012

Onde vamos parar?



Hoje em dia quando vejo em diversas oportunidades, situações como as que o Prof. Rafael Chiuzi comenta em seu artigo que tomo a liberdade de reproduzir a seguir, fico pensando: Onde vamos parar?


Em todos os locais, em todos os meios e em todas as redes sociais  nos deparamos com termos e comentários agressivos e apelativos, parece que todos têm o direito de agredir, de desacatar, de massacrar o adversário, ou aquele que apenas não concorda com suas posições, a troco de quase nada, ou de uma simples "valorização pessoal".


Repito a pergunta que fiz logo acima: Onde vamos parar? Há alguns dias, numa rede social , me referi a este mesmo assunto fazendo reflexões sobre o comportamento das pessoas hoje em dia e escrevi o seguinte:



  • Sou do tempo de se parar em sinal vermelho, ser gentil com mulheres, ser cortês com as pessoas, dirigir sem falar ao celular, não estacionar em vagas de deficientes, não sentar em bancos de idosos e grávidas nos ônibus, de mães não agredirem professores porque estavam querendo corrigir seus filhos, em que todos faziam as refeições juntos, em que as televisões eram desligadas quando chegavam visitas, de não passar na frente dos outros na filas de supermercados para mostrar aos filhos que se é esperto, de se estacionar em filas duplas em local proibido nas portas de escolas para se buscar filhos, e, enfim acho que sou de um outro mundo... 


E, assim as pessoas vão vivendo, de forma agressiva, arrogante e mal-educada, só porque "somos assim mesmo"...


Vamos então ao...





Artigo do Prof. Rafael Chiuzi

19 de Abril de 2012.
A era do “barraco”

Vivemos em uma época no mínimo peculiar. Apelidei-a de “era do barraco”, pois talvez seja onde a inversão de valores sociais esteja mais explícita hoje. Curioso hoje como muitas pessoas aquilatam expressões cotidianas como “fiz o maior barraco” ou “desci das tamancas” ou ainda “mostrei as garras” etc. No começo o alvo dos comportamentos agressivos eram majoritariamente operadores de teleatendimento, progressivamente isso começou a se espalhar: vendedores, atendentes, balconistas, secretárias, porteiros, professores e, para meu espanto, hoje percebo tal moda tomou ares de um ethos generalizado a quase todos os seres humanos. Tanto em suas vidas pessoais quanto nas próprias organizações.
Certas pessoas se orgulham de relatar como “fizeram um barraco” se contentando unicamente com a racionalização de que “sou assim mesmo viu, não adianta porque sou barraqueiro (a)” sentindo-se praticamente desculpados por si mesmos permitindo-se adotar comportamentos bestiais que, nem de perto, são ideais para a convivência com outros seres humanos. A balconista da padaria lhe deu o lanche com aquele tomate que você havia pedido para ser retirado? Que absurdo! Acabe com ela para mostrar quem manda! Não deixe barato!
Quem manda em que? onde? E por quê? Esses seres realmente se veem no direito de agredir pessoas verbalmente, de forma escrita ou falada, para mostrar sua superioridade? Você crê em seus direitos, mas não respeita o direito dos outros? E estranho como tem certeza de que “saiu por cima”, mais uma expressão que me intriga. Que época mais estranha.
Estranha porque “descer das tamancas” ou “fazer um fuá” virou sinônimo de estabelecimento de defesa própria, virou sinônimo de poder (ainda que ilusório). E talvez a pior parte seja a de que esse discurso, assim como a prática de bestializar outras pessoas é estimada por outras pessoas, que avaliam dizendo “isso mesmo, fez muito bem... eu mesma uma vez peguei de jeito uma secretária e bla bla bla”, e também contam suas peripécias mal educadas de como “saíram por cima de outra pessoa”. Fico pensando em como educar meu filho hoje em um mundo onde isso é valorizado, mais do que valores que edificaram nossa sociedade como honestidade, ética e, acima de tudo, humildade para com o próximo. Fico pensando como vivemos na era também do “Respeite meus direitos, mas esqueça meus deveres”, onde destratar um garçom, por exemplo, é normal e pior: justificável.
Nunca me esqueço de quando ainda era apenas um estagiário de psicologia na UTI de uma Santa Casa no interior do Estado de São Paulo, onde atendia pacientes internados em terapia intensiva, e vez ou outra seus familiares também. Um dos senhores de uns 60 e poucos anos que atendi certa vez, em situação muito grave de saúde, me disse em uma terça feira à tarde, bastante chuvosa (difícil de esquecer) com o olhar muito triste e arrependido: “Sabe, agora que sei que estou morrendo e ninguém veio me visitar aqui nem mesmo na UTI, eu penso que, na minha vida, deveria ter tratado melhor as pessoas que passaram por mim”. Mesmo jovem entendi que aquele deveria ser um ensinamento que deveria carregar por toda a minha vida.
Por isso hoje quando testemunho uma pessoa tratando outra com tal desprezo, penso se verdadeiramente podem ser analisadas como seres pensantes, racionais, sensatas, ou se deveriam receber o mesmo tratamento que apresentam aos outros, mas logo depois a realidade me chuta na cabeça me advertindo que talvez se elas receberem o mesmo tratamento – aí sim terão um ponto basal para continuar fazendo o que já fazem – ou seja, a visão de que o mundo está contra ela e que ela deve se acastelar a todo momento, atacando para não ser atacada, “mostrando quem manda” e que “comigo não se brinca” (mais uma expressão intrigante).
Assim, me pergunto por que na atualidade torna--‐se tarefa tão árdua tratar as pessoas bem? Quais são os empecilhos de se assentar empaticamente no lugar do outro? Por que as pessoas tem visto o outro mais como inimigo do que como um semelhante? Talvez sejam muitas indagações para respostas ainda escassas.
O irônico é que algumas, essas que se orgulham de “fazer barraco” talvez lerão esta reflexão e dirão a si mesmas: “isso mesmo, tem que tratar as pessoas com respeito, por isso que eu faço isso todos os dias” e daqui a um par de horas estarão repetindo seu padrão acéfalo com outra pessoa, pelo computador, presencialmente, ou em qualquer outra interação humana de sua vida, seja em seu lar ou em seu trabalho.
Enquanto isso nos resta esperar que a era do barraco seja passageira e que possa se configurar como mais um modismo da vida moderna, onde tantas outras coisas são mais importantes e valorizadas do que ser um bom cidadão, onde respeitar o outro é sinônimo de “coisa para os fracos”.


Rafael Chiuzi.
Psicólogo, Doutorando em Psicologia Social.
Prof. Da Universidade Metodista de São Paulo



Acho que precisamos, todos, repensarmos nossa postura no dia-a-dia, não agora, mas já a partir de ontem...

Bom final de semana a todos os leitores,


Eli dos Reis.




Nenhum comentário:

Postar um comentário